Ritual Antropofágico

O ritual antropofágico praticado pelos tupinambás possuía algumas
ambivalências. A lógica de tal rito pressupunha uma troca entre o inimigo
capturado e a comunidade que o aprisionou. Portanto, não havia
simplesmente presão, morte e canibalismo.

A antropofagia passava por um longo processo, que se iniciava com a captura.
O inimigo era levado a familiarizar-se com a tribo e a fazer parte de sua dinâmica social.
Mesmo sendo “o outro”, incorporava os hábitos dos membros dessa comunidade.
Em alguns casos, o prisioneiro chegava a viver anos com a tribo, e podia até casar-se
com uma mulher do grupo. No entanto, nunca deixava de ser reconhecido como inimigo.
Posteriormente, dava-se um processo de afastamento do capturado para “reconhecê-lo
mais uma vez como inimigo”.

Todos os membros da comunidade participavam do ritual antropofágico,
e geralmente havia um que era escolhido para matar o inimigo. Esse indivíduo
tornava-se ao mesmo tempo poderoso e temido pelos demais, pois a partir do
ritual passava a haver duas forças dentro dele. Recebendo as energias do inimigo
sacrificado, obtendo seus conhecimentos e sua alma. O indivíduo tornava-se
um ser misterioso, pois se tornava uma nova pessoa para a comunidade.

As mulheres tinham importantes atividades durante a cerimônia.
Pintavam os prisioneiros e, após a morte deles, exibiam seus pedaços,
percorrendo toda a aldeira.

Devorar o inimigo fazia parte do ciclo da vida dessas comunidades.
Esse rito era uma tradição passada de geração a geração.

Havia outros tipos de antropofagia além da incorporação do inimigo
e a lógica da vingança.

Para alguns índios, estes ritos eram demonstrações de afeto.
Por exemplo, a mãe comia a carne do filho morto,
como símbolo de amor por ele. O luto era compartilhado com
membros da família, que também comiam parte da criança
morta e choravam a sua perda.

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